Caracterização de Ambientes

AMBIENTES TERRESTRES

Os ambientes terrestres são extremamente variados e suas condições físicas muito menos estáveis do que nos ambientes aquáticos. Cada um deles é caracterizado por um conjunto de fatores ecológicos, como solo, clima, geomorfologia e também bióticos, que permitiu a colonização por flora e fauna particulares. Os principais tipos de ecossistemas dependem principalmente de fatores climáticos, como temperatura, luz e precipitação, além dos fatores edáficos como, textura do solo, teor de nutrientes e capacidade de armazenar água. A associação dessas características determina a existência de variações periódicas regulares, sazonais e diárias.

As variações ambientais, principalmente de temperatura e de umidade, exigiram profundas adaptações tanto das plantas como dos animais. Nas plantas essas adaptações ocorrem tanto ao nível fisiológico como morfológico. As plantas das caatingas, por exemplo, as xerófitas, perdem suas folhas para reduzir o seu metabolismo durante a estação seca e, nas dunas, as plantas geralmente apresentam folhas mais coriáceas e com os bordos enrolados, o que reduz os efeitos da insolação e da transpiração.

A grande maioria dos animais que conquistaram o ambiente terrestre possuem quatro adaptações básicas: aparelho respiratório capaz de absorver o oxigênio do ar, fecundação interna dos óvulos, desenvolvimento direto sem uma fase larval aquática e resistência à variação de temperatura e à dessecação.

A intensidade luminosa tem uma grande influência sobre as formas terrestres. De uma maneira geral, a pigmentação dos tegumentos é uma proteção, principalmente contra os raios ultra-violeta; os seres insuficientemente pigmentados resistem mal a estes ambientes.

Os ambientes na Terra podem apresentar-se como: tundra (ártica e alpina), florestas boreais de coníferas, florestas temperadas decíduas, florestas tropicais, campos temperados, savanas e campos tropicais, desertos e tipos semi-desérticos, como as Caatingas do Nordeste brasileiro .

Brasil inclui em seu território oito domínios intertropicais, grandes conjuntos regionais de natureza morfoclimática, fitogeográfica, hidrológica e ecológica, que são: as Florestas da Amazônia, a Mata Atlântica, os Cerrados, as Caatingas do Nordeste, o Pantanal, os Chapadões e dois domínios subtropicais, as Matas de Araucária e as Pradarias. Na Bahia distinguem-se pelo menos três desses principais domínios, geralmente denominados de Mata Atlântica, Caatingas e, a oeste do Estado, os Cerrados, que se iniciam pela elevação da Chapada Diamantina.

f016m.gif (6680 bytes)O termo Mata Atlântica designava um conjunto de florestas densas, permanentemente verdes, associadas à elevada umidade e constância de temperatura, muito ricas em espécies vegetais e animais. Sua distribuição estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, mas, devido a sua localização litorânea, foi intensamente predada desde o período da colonização do Brasil e particularmente nas últimas décadas, em conseqüência da expansão das grandes cidades. A figura 1, por exemplo, demonstra a morte de muitas árvores em função do impedimento da drenagem causado pela construção da estrada Cumuraxitiba - Prado, no sul da Bahia.

A Mata Atlântica é um dos ecossistemas de maior riqueza em biodiversidade e mais ameaçados do planeta, com menos de 10% de sua extensão original. Apesar da atual fragmentação da vegetação florestal, ainda persiste uma grande diversidade de espécies e de formas endêmicas vegetais e animais. De acordo com os resultados do WORKSHOP-MATA ATLÂNTICA DO NORDESTE, realizado em 1993, os remanescentes de Mata Atlântica situados no sul da Bahia foram identificados como ecossistemas de alta importância biológica.

Ao longo do litoral brasileiro, embora haja variação no conjunto das espécies vegetais, as árvores possuem altura média superior a 12 metros, muitas vezes com indivíduos emergentes. São numerosas as espécies herbáceas, além das epífitas e cipós. Na Bahia, entre as espécies mais comuns destacamos: murici-da-mata, Byrsonima sericea DC.; pau-pombo Tapirira guianensis Aubl.; sucupira Bowdicha virgilioides H.B K. e imbiriba, Eschweilera ovata (Cambess.) Mart.

Atualmente sob denominação de Mata Atlântica reconhecem-se também outros ecossistemas associados, como as vegetações das restingas arbóreas e arbustivas, além das áreas de cerrados inclusos nesta região litorânea e ainda os manguezais nos estuários.

Os cerrados, por sua vez, distribuem-se predominantemente na região do Planalto Central, irradiando-se também para outras áreas do sul e nordeste brasileiros. Sua fisionomia é savanóide, caracterizada pelo estrato arbustivo-arbóreo descontínuo e pelo estrato contínuo de herbáceas. As árvores e arbustos são tortuosos e possuem em geral a casca grossa . Suas principais espécies são: murici, Byrsonima verbascifolia (L.) Rich.; murici, Byrsonima coccolobifolia Kunth.; barbatimão-de-folha-miúda, Dimorphandra mollis Benth.; cinzeiro ou pau-d’água, Vochysia sp. e a lixeira Curatella americana L.

Como ambiente característico do Nordeste brasileiro, as caatingas, constituem um complexo de vegetação que têm em comum uma flora selecionada pela periódica falta d’água. Ali encontramos desde matas caducifólias até áreas semi-desérticas, com uma predominância de poucas espécies de cactáceas. Sua flora é principalmente representada por braúna, Schinopsis brasiliensis Engl., angico-de-casca, Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan, catingueira ou catinga-de-porco, Caesalpinia pyramidalis Tul., imbuzeiro, Spondias tuberosa Arruda, imburana-vermelha, Gommiphora leptophloeos (Mart.) e quixabeira, Sideroxylon obtusifolium (R.& S.) Penn., além das cactáceas, sendo as mais comuns o xique-xique, Pilosocereus gounelli (Werd.) Byl. & Row., o facheiro, Pilosocereus sp. e a palmatória, Opuntia palmadora Britt. & Rose.

Nas caatingas também ocorrem áreas úmidas condicionadas pela altitude e exposição aos ventos alíseos, principalmente os de sudeste. Estas áreas são denominadas de brejos e consideradas disjunções da Mata Atlântica em processos que levaram à especiação principalmente de répteis.

A maior parte dos animais do meio terrestre pertence a três grandes grupos: artrópodes (onicóforos, insetos, miriápodes, aracnídeos), gastrópodes pulmonados e os vertebrados, a partir dos anfíbios. Ainda existem outros grupos de animais terrestres que dependem ou estão próximos da água e, destes, muitos vivem sob pedras, dentro de madeira apodrecida ou mesmo dentro da terra, em meios úmidos. Dentre estes, estão as planárias terrestres, os nemertíneos, as sanguessugas terrestres, os nematódeos, os oligoquetas terrestres, alguns grupos de moluscos prosobrânquios e os crustáceos (oniscídeos e anfípodes).

Ainda outros grupos de animais utilizam o ambiente terrestre, embora sejam forçados a passar parte da sua existência na água (fase larval), como por exemplo os caranguejos e paguros terrestres, os peixes sub-terrestres e, claro, os anfíbios (salamandras, sapos e gias).

O grupo de invertebrados de maior sucesso na terra é o dos artrópodes, especialmente o dos insetos. Os artrópodes incluem espécies terrestres que invadiram os mais áridos ambientes, como as caatingas e os desertos. Exceto por alguns moluscos e nematódeos, todos os outros invertebrados terrestres estão principalmente restritos a áreas úmidas e incluem animais bem familiares como as minhocas.

Entre os vertebrados, as aves e os morcegos, desempenham importante papel na manutenção dos ambientes terrestres. De acordo com o seu hábito alimentar esses animais contribuem para a polinização das flores através do transporte de pólen como fazem os beija-flores (por exemplo, o beija-flor- de- gravatinha-verde, Augastes scutatus). Aproximadamente 15% das espécies de plantas americanas apresentam flores adaptadas à polinização por beija-flores, que podem ainda contribuir para dispersão das sementes, realizando deste modo, um papel importante na demografia das populações de plantas e na dinâmica e estrutura das comunidades vegetais. Aves como gaviões, falcões e corujas são excelentes controladores naturais de pequenos roedores, podendo numa só noite capturar vários camundongos. Os urubus, como o Coragyps atratus, são de grande importância na reciclagem do lixo orgânico, alimentando-se de animais mortos.

O Brasil apresenta o maior número de espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção; dos 310 animais referidos para esta categoria, 58 são mamíferos (dos quais 16 gêneros e 69 espécies de primatas) e, na sua maioria, estão concentrados na Mata Atlântica, que pode ser considerada uma das três maiores prioridades internacionais em conservação da biodiversidade. Das plantas brasileiras, 107 espécies foram enquadradas nas categorias de "em perigo", "vulneráveis" e "raras", além de outras qualificadas como "indeterminada", pois não há informações suficientes para estabelecer qual a categoria apropriada.

Marcelo Ramos da Fonseca
Tânia  Kobler Brazil
E-mail: marcelo@ufba.br
           taniabn@ufba.br

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