Os Vegetais e a Água

A RELAÇÃO DAS BRIÓFITAS COM A ÁGUA

As briófitas enfrentam os mesmos problemas de sobrevivência que as plantas vasculares no ambiente terrestre. A água é essencial para o metabolismo, mas é um suprimento limitado errático no ambiente acima do solo. Briófitas e plantas vasculares exemplificam dois padrões alternativos de adaptação a essas condições. As briófitas têm de utilizar a água onde e quando ela está disponível acima do solo, enquanto as plantas vasculares possuem raízes e um sistema de condução eficiente.

Muitas briófitas estão confinadas a ambientes úmidos, mas algumas são capazes de tolerar a deficiência hídrica e outras são extremamente tolerantes à dessecação e altamente adaptadas a uma existência poiquilo-hídrica, ocorrendo, desse modo, em ambientes hídricos, mésicos e xéricos.

As briófitas são bastante diversificadas em suas adaptações para a absorção e condução de água. Nas espécies ditas endo-hídricas, a água é absorvida do substrato e conduzida internamente até os filídios ou outra superfície evaporante, através de um sistema condutor, o qual é bem mais simples que o xilema das plantas vasculares. Ocorrem, em geral, em substratos úmidos, permeáveis e estão bem representadas na base de troncos de árvores, em brejos e em solos bem drenados. Nas briófitas ecto-hídricas, a água é facilmente absorvida (e perdida) e conduzida sobre a sua superfície, sendo o movimento desta muito mais difuso. Ocorrem principalmente em substratos impermeáveis e com pouca disponibilidade de água, tais como troncos de árvores, rochas e em solos pedregosos e compactados. São capazes de armazenar grandes quantidades de água após a chuva ou orvalho. Existem muitas briófitas que combinam mecanismos de condução endo- e ecto-hídricos, sendo chamadas, então, de "mixo-hídricas".

A condução de água nas briófitas, assim, pode se processar pelos seguintes mecanismos:

a - através de células condutoras especializadas, os hidróides, os quais são desprovidos de protoplasto vivo na maturidade mas não apresentam paredes celulares lignificadas; existem, também, células condutoras de fotossintatos, os leptóides, que mantêm vivo o seu protoplasto na maturidade.

b - através de espaços intercelulares;
c - de célula a célula, através das paredes celulares;
d - por espaços capilares externos;
e - através de células parenquimáticas condutoras;
f - através de células hialinas especializadas, providas de poros.

Um cilindro central bem desenvolvido é característico das briófitas endo-hídricas, especialmente as de maior dimensão. A condução capilar externa é especialmente importante em muitas espécies ecto-hídricas. Entretanto, tais caminhos respondem apenas por uma parte do movimento da água em cada caso. No córtex do caulídio, na lâmina do filídio e nas formas talosas (hepáticas e antóceros), muita água deve movimentar-se ao longo das paredes celulares ou de célula a célula. Os sistemas de condução capilar são diversos e complexos, incluindo os espaços entre filídios, entre filídios e caulídio e em meio aos rizóides e tomentos, bem como entre as papilas que cobrem a superfície das células. Poucos são as briófitas que apresentam sistemas capilares internos formados por células especializadas, podendo-se destacar, nesse aspecto, as famílias Sphagnaceae, Leucobryaceae e Calymperaceae. Em tais briófitas existem células hialinas sem conteúdo protoplasmatico vivo, providas de poros, denominadas de leucocistos, que atuam eficazmente na condução célula a célula. O sistema capilar interno também está representado pelo transporte via parede celular e deve ocorrer, principalmente, entre as briófitas endo-hídricas.

Cid José Passos Bastos
E-mail: cjpbasto@ufba.br

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