Os Vegetais e a Água

OS VEGETAIS E A ÁGUA

Nas classificações tradicionais, as algas e as demais plantas enquadram-se no reino dos vegetais, denominado PLANTAE. Classificações mais recentes baseadas em propostas de filogenia dos seres vivos apresentam alternativas a esta visão. As diferenças entre grupos vegetais são grandes; contudo, estes compartilham uma característica comum, a condição de fotossintetizantes. Independente do grau de evolução ou desenvolvimento, esses vegetais são capazes de realizar a fotossíntese e, por isso, ocupam o primeiro nível trófico, o dos PRODUTORES, do qual dependem para sobreviver todos os demais seres.

As algas representam o grupo estruturalmente mais simples desse reino, sendo seguidas pelas briófitas e pelas pteridófitas e espermatófitas. Através dos links deste parágrafo você poderá ter mais informações sobre cada um dos grupos citados.

A sobrevivência das espécies no planeta Terra depende de uma série de fatores, inclusive ambientais. Um dos componentes do meio ambiente que de forma mais direta afeta a vida é a ÁGUA.

A ÁGUA É A SUBSTÂNCIA MAIS ABUNDANTE DO NOSSO PLANETA. Contudo, ainda que seja um paradoxo, é também aquela que mais restringe a vida. Apenas 3% da água existente é potável, sendo que 99% estão retidos em geleiras, calotas polares e profundezas do solo, ficando somente 1% disponível para o homem.

SEM ÁGUA NÀO HÁ VIDA e a própria distribuição da vegetação sobre a superfície da terra é controlada mais pela disponibilidade desse líquido precioso do que qualquer outro fator. Para se ter uma idéia da sua importância, basta lembrar que 80 a 90% do peso fresco de uma planta herbácea e aproximadamente 50% das espécies lenhosas estão representados pela água. Além disso, ela é o solvente que permite que gases, minerais e outras substâncias possam penetrar nas células e fluir entre as mesmas e entre os vários órgãos do vegetal. Também é o reagente em muitos processos fisiológicos, incluindo a fotossíntese e a hidrólise do amido em açúcar. Não poderemos esquecer o seu papel na turgescência da célula e, conseqüentemente, no crescimento do vegetal.

Os diferentes padrões estruturais observados nos grandes grupos vegetais determinam que as estratégias relacionadas à obtenção e transporte de água sejam diferentes para as algas, briófitas e plantas vasculares. Através dos links deste parágrafo você poderá ter mais informação sobre as estratégias de cada grupo para lidar com essa questão.

Através de estudos anatômicos de espécies vegetais ocorrentes nos diferentes ecossistemas do globo, se pode observar caracteres estruturais ou modificações presentes nas plantas, que refletem o tipo de hábitat das mesmas. No transcorrer do tempo, muitas espécies vegetais têm-se adaptado ao hábitat, tanto em suas características estruturais como fisiológicas, principalmente em relação aos fatores do meio como solo, temperatura, intensidade luminosa e disponibilidade de água. Logicamente que não se pode descartar a questão do controle genético, inclusive ainda é muito discutido entre os botânicos e ecólogos a distinção entre os caracteres adaptativos daqueles que são puramente hereditários. Todos os fatores citados, exercem influência seletiva no desenvolvimento da planta, todavia nos deteremos aqui à questão da disponibilidade de água. Existem plantas que vivem total ou parcialmente submersas ou que vegetam lugares muito úmidos. As primeiras são HIDRÓFITAS (Fig. 1) podendo ser submersas, flutuantes e emersas; as outras são HIGRÓFITAS. Esses vegetais habitam charcos, rios ou outras massas de água. Suas características morfo-anatômicas são: pequeno porte; raízes em geral com ausência de pêlos, podendo às vezes estarem presentes nas folhas flutuantes e emersas; epiderme com células de paredes delgadas e revestida por cutícula pouco desenvolvida; estômatos ausentes (submersas) ou quando presentes ocorrentes na face adaxial; espaços intercelulares amplos provenientes de lisigenia ou esquisogonia e da formação de um aerênquima; feixes vasculares e fibras reduzidos; mesofilo indiferenciado. Nos caules e nas raízes se pode encontrar uma endoderme com estria de Caspary.

Além das citadas acima, existem outros grupos de plantas, a maioria, que vive em ambiente caracterizado pela média provisão de água. A estas pertencem as plantas dos bosques e das pradarias. Os vegetais de hábitats em que geralmente não há excesso nem deficiência de água, são denominados MESÓFITOS (Fig. 2). Apresentam as seguintes características morfo-anatômicas: raízes geralmente extensas e muito ramificadas com pêlos radiculares abundantes; folhas em geral grandes e de verde intenso; a epiderme é revestida por uma cutícula delgada, estômatos abundantes e geralmente localizados em ambas as faces da folha; mesofilo diferenciado do tipo dorsiventral com grande quantidade de cloroplastos. Em geral nessas plantas não existem estruturas definidas para aumentar a provisão de água ou para diminuir sua perda.

Ocorrem ainda as plantas que habitualmente crescem em lugares onde a evaporação é elevada e o abastecimento de água disponível é baixo. Elas mostram adaptações características à diminuição do conteúdo de água. São denominadas XERÓFITAS.(Fig. 3) A este grupo pertencem certas espécies dos desertos, dunas e caatingas. As suas características morfo-anatômicas são: redução da superfície foliar; epidermes de paredes espessas; cutícula delgada ou espessa, tricomas abundantes, estômatos geralmente localizados na epiderme abaxial das folhas, sendo pequenos e numerosos por unidade de área; feixes vasculares e esclerênquima desenvolvidos; mesofilo em geral diferenciado isolateral. Plantas de ambientes aquáticos onde a água, apesar de presente não se encontra em condições favoráveis para absorção, como por exemplo os manguezais, podem apresentar caracteres xeromórficos.

Nymphea sp. A          Nymphea sp.- Seção Transversal B

Figura 1. - Nymphaea sp. A - Aspecto geral da mesma na Lagoa de Pituaçu, Salvador - BA. B - Seção transversal da folha evidenciando a nervura central (1) (feixe de xilema (2) e floema (3)) e o mesofilo dorsiventral com aerênquima (4). (Autores das fotos: Marcelo Ramos da Fonseca e Lazaro Benedito da Silva)

                  Byrsonima Sericea A          Byrsonima Sericea - Detalhe B

Figura 2 Byrsonima sericea no Parque de Pituaçu . A - Aspecto geral. B - Detalhe da nervura central da folha evidenciando o xilema (1) e o floema (2). (Autores das fotos: Marcelo Ramos da Fonseca e Lazaro Benedito da Silva)

Cactacea

Figura 3. Aspecto geral de Cactaceae, planta característica de ambientes xéricos (Ibiraba, Bahia.
Autor da foto: Pedro Rocha)

Lazaro Benedito da Silva
Hermínia Maria Bastos Freitas

E-mail: bsilva@ufba.br

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