Caracterização de Ambientes

AMBIENTES ESTUARINOS E MANGUEZAIS

Estuários (do latim aestus=maré) são ambientes muito especiais que ocorrem ao longo da costa em lugares onde os rios deságuam no mar, havendo interação de águas marinhas e continentais. A ação das marés promove a circulação dos nutrientes e alimentos além da remoção dos produtos inaproveitáveis do metabolismo dos organismos. Estes fatores, somados à presença de plantas fixas (algas marinhas, capim de imersão intermitente) que retêm os nutrientes provenientes do ambiente terrestre, de algas microscópicas (fitoplâncton) e da microflora bentônica, formando um verdadeiro tapete fotossintetizante e contribuindo para a formação de um dos ambientes mais produtivos e férteis do mundo. A própria diferença na salinidade (massas de água doce e marinha) causa a mistura das águas, tanto horizontal quanto verticalmente e, junto com alguns organismos bentônicos filtradores como os mexilhões, colaboram para a retenção dos nutrientes.

Nos estuários, os invertebrados como pequenos caranguejos, camarões, nematódeos, anelídeos poliquetos, pequenos bivalves e até larvas de insetos ingerem grande quantidade de detritos das plantas vasculares com populações microbianas, que passam por seus tubos digestivos, resultando em repetida remoção e novo crescimento dessas populações e são, por sua vez, o alimento principal de vertebrados como peixes, aves, etc. Estuários e outras regiões de terras úmidas costeiras são de grande importância para as aves marinhas tanto residentes quanto migratórias.

Na baía de Camamú (Bahia), por exemplo, várias aves utilizam este complexo estuarino como residentes migratórias, como a Andorinha-azul (Progne chalybea), Andorinha-pequena-de-casa (Notiochelidon cyanoleuca), garça - vaqueira (Bubulcus ibis) e a narceja (Gallinago gallinago). Outras são visitantes migratórias, como as Charadriidae, que se alimentam de pequenos crustáceos, moluscos, insetos e vermes aquáticos; as Scolopacidae, como os maçaricos, que ingerem moluscos, pequenos crustáceos, insetos e às vezes animais mortos; e as Procellariidae, grupo no qual a maioria das espécies alimenta-se de peixes e cefalópodes e algumas de plâncton, como as pardelas Puffinus gravis e Calonectris diomedea que vêm do Hemisfério Sul e Norte, respectivamente.

A mistura das águas em alguns estuários especiais promove processos de floculação, permitindo a deposição de frações arenosas finas que constituem o sedimento lamoso. Esse sedimento é colonizado por diversas formas animais e por plantas de porte arbóreo e/ou arbustivo que formam a comunidade vegetal dos manguezais.

Os manguezais são ambientes estuarinos especiais, caracterizados por apresentarem densa vegetação de halófitas (plantas que vivem em condições salinas), chamadas mangues. A densidade das espécies de mangues (Avicenia schaueriana, A. germinans, Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle) e as condições naturais dos estuários dão aos manguezais uma condição única de uma eficiente "armadilha de nutrientes"; aí, a decomposição da matéria orgânica é feita por bactérias anaeróbicas que, desprendendo grande quantidade de ácido sulfúrico (H2S), conferem odor característico a estes ambientes.

A maioria dos nutrientes dissolvidos permanece presa neste estuário (em função de um maior tempo de residência), em vez de ser carregada para o mar, criando condições para que funcione como um "berçário" para espécies que têm valor comercial, como os camarões, lagostins, moluscos e peixes.

Embora a vegetação do manguezal possa assimilar uma quantidade razoável de contaminantes, certos limites devem ser estabelecidos para protegê-la da poluição pesada, particularmente de óleo e substâncias tóxicas. Os manguezais são considerados áreas vitais no nosso planeta e requerem o máximo de proteção contra distúrbios ambientais.

Os manguezais podem ser encontrados nas regiões tropicais e sub-tropicais do mundo. No litoral brasileiro, ocorrem em vários estuários desde o Amapá (2° de latitude Norte) até o litoral sul de Santa Catarina, na foz do rio Araranguá (29° de latitude Sul).

No estado da Bahia além do complexo estuarino de Camamú, a Baía de Todos os Santos, considerada um grande estuário e a maior do país, é conhecida pela degradação de seus ambientes.

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Manguezal da Baía de Aratu,Tapuã da Fonte
(Foto de Donald Smith)

Tânia Kobler Brazil
Lázaro Benedito da Silva
E-mail: taniabn@ufba.br
           bsilva@ufba.br

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